sexta-feira, 1 de janeiro de 2010

OS CICLOS ECONÔMICOS E A FORMAÇÃO DO ESPAÇO URBANO DO BAIRRO DE CAMPO GRANDE NO RIO DE JANEIRO.

O pau-brasil, a cana-de-açúcar, o café e a citricultura, contribuíram para o povoamento da Região Oeste, que nos seus áureos tempos, chegou a ser conhecida como “Sertão Carioca”. Hoje a agricultura não têm mais grande importância para a região que cedeu espaço para os loteamentos, a construção civil, o comércio e as indústrias. A ocupação da enorme área onde se situa o bairro de Campo Grande está vinculada a doação das primeiras sesmarias e tem suas origens no Século XVI, quando, a partir da fundação da cidade do Rio de Janeiro, em 1565, começou praticamente o povoamento inicial, não apenas de Campo Grande, mas também de todas as áreas próximas. Os primeiros a chegarem foram gente vinda de Portugal que foram aos poucos expulsando os índios (Picinguabas) que aqui existiam.

Nos primeiros anos da colonização do Brasil (1567) já se verificam os primeiros registros sobre Campo Grande e Santa Cruz em antigos mapas do Rio de Janeiro existentes no Serviço Geográfico do Exército. Mas a ocupação inicial propriamente dita começou através dos caminhos que levavam para a Fazenda de Santa Cruz e com a cultura canavieira, esse processo ocorreu também em todas as outras áreas da cidade do Rio de Janeiro. Nessa época a Freguesia de Nossa Senhora do Destêrro de Campo Grande, como assim se denominava, formava, juntamente com as freguesias de Iguassu, Marapicu, Jacarepaguá, Itaguaí, Guaratiba e Jacutinga, o antigo distrito de Guaratiba, onde, em 1779, se encontravam a maioria das fazendas de açúcar do Baixada do Rio de Janeiro. Segundo o historiador e geógrafo Alberto Ribeiro Lamego, Campo Grande possuía nesse período quinze engenhos de açúcar, sendo o Engenho de Palmares um deles.

A produção da cana-de-açúcar foi a responsável pelo primeiro grande aumento populacional e a ela se deve também a organização social, baseada no poder dos Senhores de Engenho, que, com o crescimento das safras e o conseqüente aumento da população, transformavam os engenhos em núcleos populacionais que tinham na “Casa Grande” o seu pólo sócio-econômico. O declínio da produção de cana-de-açúcar em todo essa região começou a ocorrer, motivado, em grande parte, pela concorrência do açúcar da região de Campos.

Foi durante esse período que começou a ser construída a Igreja matriz de Nossa Senhora do Destêrro de Campo Grande, em 1796, e que teve sua Capela-Mor sagrada em 1808, quando da vinda da família real para o Brasil. Junto com a igreja, foram surgindo construções nas imediações, quase sempre construídas em terrenos alugados pelas fazendas, pois a venda de terras não era costume comum nessa época.

Com o fim do ciclo do açúcar começaram os cafezais a se espalharem pelo Rio de Janeiro, cujas primeiras mudas foram trazidas da Guiana Francesa. Este ciclo econômico, embora pouco expressivo na região, devido a inúmeros fatores, teve, em Campo Grande, principalmente na região do Mendanha, um núcleo inicial que foi a fazenda do Padre Antônio Lopes da Fonseca de onde saíram mudas que subiram serra acima, alcançando Nova Iguaçu, Resende, Areias, Vassouras e todo o vale do Rio Paraíba.

A libertação do escravos em 1888 contribuiu para o fim do ciclo do café no Rio de Janeiro e a recuperação econômica da área de Campo Grande ocorreu com a implantação da citricultura, que se constituiu num dos melhores períodos da economia da região. Para esse sucesso, muito contribuiu a inauguração do ramal de Santa Cruz, da Estrada de Ferro Central do Brasil, inaugurado em 02 de dezembro de 1878. Este ramal tinha uma estação em Campo Grande e a sua localização fez com que as casas comerciais e residenciais se localizassem próximas à ela.

A análise isolada da economia de Campo Grande e sua importância nesse período é bastante difícil, já que os plantadores possuíam terras dedicadas ao cultivo da laranja, tanto em Campo Grande, quanto em Nova Iguaçu. Mas mesmo assim durante o período dos grandes laranjais, Campo Grande foi um dos maiores produtores do Brasil, exportando muita laranja para os Estados Unidos e até para a Europa.

O declínio da cultura da laranja ocorreu devido a praga da mosca mediterrânea que ocasionou o apodrecimento dos estoques durante a época da II Guerra Mundial, a partir daí a praga se desenvolveu tornando-se incontrolável.

Segundo Valentim Ferreira Guimarães, herdeiro de J.Guimarães, um dos mais importantes exportadores brasileiros de laranja, o problema maior não foi só a mosca mediterrânea, a fumagina ou a formiga, e sim os loteamentos que começavam a surgir em Campo Grande e áreas próximas, com os moradores destruindo os laranjais e ocasionando muitos prejuízos.

Com o fim deste ciclo, Campo Grande ainda viveu um curto período econômico voltado para a avicultura, que teve seu inicio na Estrada do Mato Alto, com o aviário do Sr. Bartolomeu Rabelo. Segundo ele, a avicultura enfrentou duas grandes dificuldades que a levaram a não resistir a concorrência de São Paulo. A primeira foi a grande queda da produção no verão devido ao forte calor e à falta de meios para combatê-lo. A segunda, foi que a alimentação das aves, constituída de farinha de carne, farinha de osso e milho, era comprada em São Paulo, o que tornava muito caro o preço do produto. No início da década de 1960, essa atividade também chegou ao fim e terminava assim o ciclo agrícola da região.

Com os laranjais servindo de propaganda para à divisão de terras e à venda de pequenas chácaras, começou então um processo de abertura de loteamentos e de criação de indústrias que não parou mais e esse processo de urbanização prossegue em Campo Grande até os dias atuais.

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