sexta-feira, 23 de abril de 2010

O BANDEIRISMO

A questão do bandeirismo, evidencia as dificuldades das comunidades afastadas do centro exportador dominante, o nordeste açucareiro. Os paulistas viram-se compelidos a buscar meios de enriquecimento. Disto resultaram as bandeiras - empresas móveis, misto de aventureirismo épico, e oportunismo empresarial.
As bandeiras representaram um importante fator na configuração das fronteiras, pois dirigiram-se rumo às áreas desabitadas do interior, pelas quais os espanhóis não haviam se interessado, voltados como estavam para a mineração andina.
Devido à carência de recursos da terra à qual não tinham por que se prender, os paulistas dos primórdios acabaram por favorecer o surgimento de uma ideologia que muito ajudaria a classe dominante regional do futuro, a ideologia da iniciativa privada.
S. Paulo se colocou na vanguarda econômica e política da nação, essa ideologia muito serviu à classe dominante regional como instrumento do federalismo.
Devido ao aspecto do pioneirismo desbravador, o primitivo isolamento da comunidade paulista, contribuiu para a formação de uma mentalidade regionalista fortemente arraigada, cujo resultado último e extremo, veio a ser a Rev. Const. De 1932.
Na primeira grande fase do bandeirismo, o objetivo era aprisionar índios para vende-los como escravos em lugares que não usavam o negro por ser muito caro, era o único bom negócio possível aos paulistas. Tal negócio foi facilitado pois, devido à união Ibérica, o Tratado de Tordesilhas não estava em vigor, isto foi uma das causas da destruição do primeiro ciclo missioneiro no sul da colônia.
As bandeiras tiveram seu auge durante a ocupação de Angola pelos holandeses, pois foi interrompido o tráfego negreiro, e a mão-de-obra escrava escasseou ainda mais, gerando um aumento nos preços dos escravos. O seu declínio foi por ocasião da expulsão dos holandeses da costa africana, ao mesmo tempo em que os índios aldeados nas missões sulinas, começaram a reagir aos ataques dos bandeirantes. Após dois contra-ataques bem sucedidos, por parte dos índios, principalmente o "combate do M’bororé", os bandeirantes interromperam seus assédios às missões.
Segundo alguns autores, a palavra bandeira, talvez derive de "bando" (reunião de bandos). Possuía uma certa organização. Apesar de submetida a uma autoridade absoluta, era muito heterogênea. Cassiano Ricardo à definiu como "cidade que caminha", devido à sua diversificação social.
A alimentação dessas hordas, consistia principalmente de caça, pesca, coleta, e eventuais roças de milho (bivaques). As expedições duravam anos, e eventualmente havia quem as financiasse, o que reforça a idéia da combinação do espírito aventureiro, com o espírito empresarial, impregnado do desejo de lucro.
Quando o açúcar deixou de dar lucros, a Coroa resolveu encontrar metais preciosos. Houve a contratação de técnicos espanhóis pelo governo português, para ensinar aos os bandeirantes, as técnicas de mineração, e as bandeiras passaram a se dedicar à busca de pedras e minerais preciosos, tornado-se uma empresa quase estatal, ao final do século XVII.

quinta-feira, 22 de abril de 2010

A MINERAÇÃO

O ciclo do ouro se constituiu um dos episódios básicos da história brasileira do séc XVIII. Favoreceu o povoamento do interior, deslocou o eixo histórico colonial do nordeste para o centro-sul. Surgiu um novo tipo de sociedade (mais flexível que a do açúcar).
Também surgiram novas cidades como: Ouro Preto, Sabará, Mariana, São João d’El Rey, etc., bem como a criação de novas capitanias (Minas Gerais, Goiás, Mato Grosso).
O ouro era monopólio real, a exploração era feita através do arrendamento de lotes ou "datas de minas", que eram sorteadas aos particulares. Seu tamanho variava conforme o número de escravos do candidato contemplado. Este tinha um prazo para iniciar a extração, não podia negociar a data recebida, exceto se provasse ter perdido todos os seus escravos. Em caso de repetição da alienação de uma data, o responsável ficava proibido de novamente candidatar-se e receber outra.
Inicialmente a mineração era superficial, e restringia-se ao leito dos rios. A mineração em profundidade teve início no séc. XIX, com a vinda para o Brasil da St John d’El Rey Minning Co. (inglesa) Hanna Corp. (americana), esta última, um conglomerado
norte-americano, dedicou-se à extração de minério de ferro no atual estado de MG, já no séc XX.
A exploração do ouro no séc XVIII, se dava de duas maneiras: lavras (organizada, empresarial), ou pelos faiscadores (iniciativa privada) e ex-escravos que exerciam pequenos ofícios nas cidades.
O ciclo do ouro possibilitou surgimento de grupos intermediários entre a classe rica, e a classe pobre (classe mercantil). Pois o ouro exigia menor investimento do que o açúcar. Outra classe também surgiu, a dos funcionários públicos para cobrar impostos, e coibir o contrabando
O contrabando foi a principal causa de Portugal desestimular a vinda de gado do NE, pelo vale do S. Francisco, o que incentivou a atividade pecuária no extremo sul, necessária para abastecer a região mineradora.
Entre outras conseqüências do ciclo do ouro, tivemos também a mudança da capital de Salvador para o rio de Janeiro (1763). O incentivo à política centralizadora, os Bragança (Reis D. João V e D. José I, tornaram-se financeiramente independentes das cortes graças aos impostos cobrados no Brasil na época faustosa (quinto) e mesmo na decadente (derrama) da mineração.
No plano das relações internacionais, havia uma forte dependência de Portugal em relação à Inglaterra (1703 - Tratado de Comércio e Amizade - de Methuen - nome do diplomata inglês que o obteve). A Inglaterra se encarregou da sustentação militar e diplomática da frágil nação lusa numa Europa conflagrada pela guerra de sucessão da Espanha, em troca da abertura dos portos lusitanos aos artigos manufaturados britânicos. Neste tratado, a única vantagem para Portugal eram os privilégios alfandegários para o vinho (até 1786).
Os resultados do Tratado de Methuen não foram positivos para os lusos. O abastecimento de Portugal e do Brasil com produtos britânicos acarretou um «déficit» crescente de Lisboa em relação à Londres. Portugal se tornou colônia comercial da Inglaterra, e ainda perdeu em 1786, as vantagens que possuía de colocação de seus vinhos no mercado britânico.
O ouro brasileiro que foi entregue aos cofres portugueses, lá ficou, isto é, não foi utilizado para pagar os «déficits» lusitanos, serviu para estimular os gastos suntuários da monarquia.

domingo, 11 de abril de 2010

O século do ouro

A descoberta das lavras de ouro nas Minas Gerais, nos finais do século XVII e início do século XVIII, seguidas dos achados em Jacobina e no Rio das Contas na Bahia, nos de Forquilha e Sutil no Mato Grosso, e o que se extraiu no sertão de Guaiás em Goiás, foi o acontecimento mais espetacular da história econômica do Brasil colônia enquanto provocou enorme repercussão, tanto para a própria metrópole como para boa parte do mundo. Desde os primórdios da colonização, acreditava-se que o Brasil tinha ouro e outros metais e pedras preciosas. Só que, passados já dois séculos de ocupação, não haviam sido encontrados em volume significativo.

Lentamente, como vimos, a economia colonial abandonou sua predominância extrativista e coletora dos primeiros tempos, do tráfico com pau-brasil e das drogas do sertão, para uma exploração mais racional e estável, graças à implantação dos engenhos de açúcar e das lavouras de tabaco que se espalharam por todo o litoral do Nordeste.

População: nossa população, ao redor do final do século XVII, era estimada em uns 300 mil povoadores (calcula-se que havia ainda 1.500.000 de índios), grande parte deles concentrados no Nordeste. Outro pequeno núcleo populacional encontrava-se no Planalto de Piratininga, na atual São Paulo, formado pelos bandeirantes. Tipos mamelucos que se dedicavam a prear índios pelo sertão afora, indo inclusive atacar as missões guaranis, organizadas pelos jesuítas desde os séculos 16 e 17, no Paraguai e no atual Estado do Rio Grande do Sul.

Foi nesse quadro, de limitado progresso econômico (os portugueses começavam a enfrentar a concorrência da produção colonial dos holandeses, franceses e ingleses, que implantaram engenhos açucareiros nas Antilhas ), que a Coroa determinou a pressionar seus funcionários e demais habitantes no sentido de estimula-los, particularmente os paulistas, a que desbravassem o sertão em busca do precioso ouro.

sábado, 3 de abril de 2010

O NATIVISMO

O séc XVIII, além da mineração, também foi marcado pelos diversos sintomas de descontentamento em relação à política metropolitana, os "movimentos nativistas", não se deve no entanto levar este termo ao pé da letra, visto que os primeiros movimentos visavam corrigir injustiças exatamente apelando ao poder absoluto do rei.
Revolta no Maranhão (Manuel Beckmann) - Contra a oposição jesuítica à escravização indígena, e contra o monopólio extorsivo de uma Cia de Comércio, (A Revolta de Beckmann)
Guerra dos Emboabas (S. Paulo, início do séc XVIII (1707) - Paulistas x forasteiros (baianos e portugueses), devido à concorrência na procura do ouro
Guerra dos mascates (1710) - Latifundiários devedores de Olinda x credores de Recife, de origem portuguesa.
Revolta de Filipe dos Santos (Ouro Preto, ou vila Rica - 1720) - Organizado pelos mineradores contra a instituição do quinto e das casas de fundição para cobrá-lo, impedindo assim, a sonegação e o contrabando. Nenhuma teve objetivos amplos, foram manifestações de cunho imediatista e regional, sem projetos políticos consistentes. Manuel Beckmann lutou pelos interesses dos
colonos do Maranhão, acreditando que a solução só poderia vir de Sua Majestade. A Guerra dos Emboabas não passou de disputa interesseira entre paulistas bandeirantes, e forasteiros ávidos em lucrar com um negócio para cuja descoberta não tinham concorrido. A Guerra dos Mascates foi um conflito entre classes dominantes da região pernambucana, a agrária e a mercantil. A rebelião de Filipe dos Santos, foi em prol de uma causa que não pode encontrar defensores - a causa do contrabando e da sonegação em favor de benefícios individuais.
Estas várias revoltas no período do Brasil colônia, apenas espelham as diferenças entre as várias partes do Brasil e a regionalização social e cultural subjacente à unidade política e administrativa imposta pela Coroa portuguesa. Todavia, mostram, de um modo desordenado, a existência de contradições e descontentamentos locais forjados no correr da existência colonial.