segunda-feira, 31 de maio de 2010

Barrocos e o Neobarroco

Já foi aludido antes que alguns autores, depois da proposição feita por Eugenio d'Ors, no século XX, consideram que o Barroco é um princípio constante na história da arte e da cultura, contrapondo-se periodicamente à tendência classicista, um princípio que enfatiza o drama, o contraste, a vitalidade, o exagerado, em oposição com o que define comumente o outro: a economia, o equilíbrio, a harmonia. Assim, por exemplo, a escola helenista de escultura já foi chamada de "barroca", para salientar sua diferença em relação à escola clássica. Da mesma forma, vários escritores modernos e contemporâneos têm acusado um retorno a princípios formais e estéticos "barrocos" ao longo do século XX, fazendo uso de recursos retóricos tipicamente encontrados nas artes visuais e literárias no século XVII que pouco se relacionam à tradição clássica. Gregg Lambert argumentou que um "design barroco" é visível na contemporaneidade quando se usa a metalinguagem e a intertextualidade, a "pintura dentro da pintura", ou o "texto dentro do texto". Michel Foucault enfatizou essa transformação epistemológica quando disse que no período moderno os limites da verdade já não se encaixam em categorias clássicas, significando que hoje existe uma forma de conhecimento que está constantemente se expondo à autoanulação pela mesma retórica pela qual este conhecimento se estrutura, quando a descrição artística da experiência real se aproxima da ficção e da paródia, quando toda a face da cultura assume um aspecto de farsa e encenação. A hipótese de um retorno ao Barroco se torna mais plausível quando se lembra que a própria definição do Barroco histórico até agora é muito mal estabelecida, e já foi suposto que o Barroco como uma entidade particular se trata mais de um artefato, uma ficção da crítica, do que uma realidade viva. Para Gilles Deleuze, Barroco é apenas um conceito, uma razão suficiente por si mesma, desvinculada da história, que pertence à mesma categoria que o conceito de Deus.
Raymond Williams defendeu a existência do Barroco contemporâneo, ou Neobarroco, como o chamam alguns, através da alegação de que todas as estruturas culturais apresentam traços residuais de épocas pregressas, opinião que é compartilhada com José Maravall e Frederic Jameson. Octavio Paz e José Lezama Lima encontraram características barrocas na poesia espanhola e latinoamericana recente,entre o fim do século XIX e o início do século XX muito da arquitetura eclética do período foi considerada barroquizante, com vários exemplos encontrados também na escultura, nas artes decorativas, na joalheria e na música, e Angela Ndalianis afirmou que o gosto atual pelo espetáculo e pelo ilusionismo - especialmente óbvios no sucesso que fazem o cinema e a televisão - pela multimídia e interatividade, e pelo o "princípio da abolição da moldura", que leva a forma a extrapolar limites convencionais, tipificam a produção artística contemporânea e são paralelos claros com a cultura do Barroco histórico. Henri Focillon também ecoou estas alegações quando disse que as formas independem do tempo e são recorrentes ao longo da história, e a corrente pós-moderna é classificada por alguns autores, como Omar Calabrese e Umberto Eco, como neobarroca.

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